quarta-feira, 29 de abril de 2009

A gripe suína e o monstruoso poder da indústria pecuária

A gripe suína mexicana, uma quimera genética provavelmente concebido na lama fecal de um criadouro industrial, ameaça subitamente o mundo inteiro com uma febre. Os brotos na América do Norte revelam uma infecção que está viajando já em maior velocidade do que aquela que viajou a última cepa pandêmica oficial, a gripe de Hong Kong, em 1968.

Roubando o protagonismo de nosso último assassino oficial, o vírus H5N1, este vírus suíno representa uma ameaça de magnitude desconhecida. Parece menos letal que o SARS (Síndrome Respiratória Aguda, na sigla em inglês) em 2003, mas como gripe, poderia resultar mais duradoura que a SARS. Dado que as domesticadas gripes estacionais de tipo “A” matam nada menos do que um milhão de pessoas ao ano, mesmo um modesto incremento de virulência, poderia produzir uma carnificina equivalente a uma guerra importante.

Uma de suas primeiras vítimas foi a fé consoladora, predicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na possibilidade de conter as pandemias com respostas imediatas das burocracias sanitárias e independentemente da qualidade da saúde pública local. Desde as primeiras mortes causadas pelo H5N1 em 1997, em Hong Kong, a OMS, com o apoio da maioria das administrações nacionais de saúde, promoveu uma estratégia centrada na identificação e isolamento de uma cepa pandêmica em seu raio local de eclosão, seguida de uma massiva administração de antivirais e, se disponíveis, vacinas para a população.

Uma legião de céticos criticou esse enfoque de contrainsurgência viral, assinalando que os micróbios podem agora voar ao redor do mundo – quase literalmente no caso da gripe aviária – muito mais rapidamente do que a OMS ou os funcionários locais podem reagir ao foco inicial. Esses especialistas observaram também o caráter primitivo, e às vezes inexistente, da vigilância da interface entre as enfermidades humanas e as animais. Mas o mito de uma intervenção audaciosa, preventiva (e barata) contra a gripe aviária resultou valiosíssimo para a causa dos países ricos que, como os Estados Unidos e a Inglaterra, preferem investir em suas próprias linhas Maginot biológicas, ao invés de incrementar drasticamente a ajuda às frentes epidêmicas avançadas de ultra mar. Tampouco teve preço esse mito para as grandes transnacionais farmacêuticas, envolvidas em uma guerra sem quartel com as exigências dos países em desenvolvimento empenhados em exigir a produção pública de antivirais genéricos fundamentais como o Tamiflu, patenteado pela Roche.

A versão da OMS e dos centros de controle de enfermidades, que já trabalha com a hipótese de uma pandemia, sem maior necessidade novos investimentos massivos em vigilância sanitária, infraestrutura científica e reguladora, saúde pública básica e acesso global a medicamentos vitais, será agora decisivamente posta a prova pela gripe suída e talvez averigüemos que pertence à mesma categoria de gestão de risco que os títulos e obrigações de Madoff. Não é tão difícil que fracasse o sistema de alertas levando em conta que ele simplesmente não existe. Nem sequer na América do Norte e na União Européia.

Não chega a ser surpreendente que o México careça tanto de capacidade como de vontade política para administrar enfermidades avícolas ou pecuárias, pois a situação só é um pouco melhor ao norte da fronteira, onde a vigilância se desfaz em um infeliz mosaico de jurisdições estatais e as grandes empresas pecuárias enfrentam as regras sanitárias com o mesmo desprezo com que tratam aos trabalhadores e aos animais.

Analogamente, uma década inteira de advertências dos cientistas fracassou em garantir transferências de sofisticadas tecnologias virais experimentais aos países situados nas rotas pandêmicas mais prováveis. O México conta com especialistas sanitários de reputação mundial, mas tem que enviar as amostras a um laboratório de Winnipeg para decifrar o genoma do vírus. Assim se perdeu toda uma semana.

Mas ninguém ficou menos alerta que as autoridades de controle de enfermidades em Atlanta. Segundo o Washington Post, o CDC (Centro de Controle de Doenças) só percebeu o problema seis dias depois de o México ter começado a impor medidas de urgência. Não há desculpas para justificar esse atraso. O paradoxal desta gripe suína é que, mesmo que totalmente inesperada, tenha sido prognosticada com grande precisão. Há seis anos, a revista Science publicou um artigo importante mostrando que “após anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte tinha dado um salto evolutivo vertiginoso”.

Desde sua identificação durante a Grande Depressão, o vírus H1N1 da gripe suína só havia experimentado uma ligeira mudança de seu genoma original. Em 1998, uma variedade muito patógena começou a dizimar porcas em uma granja da Carolina do Norte, e começaram a surgir novas e mais virulentas versões ano após ano, incluindo uma variante do H1N1 que continha os genes do H3N2 (causador da outra gripe de tipo A com capacidade de contágio entre humanos).

Os cientistas entrevistados pela Science mostravam-se preocupados com a possibilidade de que um desses híbridos pudesse se transformar em um vírus de gripe humana – acredita-se que as pandemias de 1957 e de 1968 foram causadas por uma mistura de genes aviários e humanos forjada no interior de organismos de porcos – e defendiam a criação urgente de um sistema oficial de vigilância para a gripe suína: advertência, cabe dizer, que encontrou ouvidos surdos em Washington, que achava mais importante então despejar bilhões de dólares no sumidouro das fantasias bioterroristas.

O que provocou tal aceleração na evolução da gripe suína: Há muito que os estudiosos dos vírus estão convencidos que o sistema de agricultura intensiva da China meridional é o principal vetor da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico intercâmbio genômico. Mas a industrialização empresarial da produção pecuária rompeu o monopólio natural da China na evolução da gripe. O setor pecuário transformou-se nas últimas décadas em algo que se parece mais com a indústria petroquímica do que com a feliz granja familiar pintada nos livros escolares.

Em 1965, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de porcos espalhados entre mais de um milhão de granjas. Hoje, 65 milhões de porcos concentram-se em 65 mil instalações. Isso significou passar das antiquadas pocilgas a gigantescos infernos fecais nos quais, entre esterco e sob um calor sufocante, prontos a intercambiar agentes patógenos à velocidade de um raio, amontoam-se dezenas de milhares de animais com sistemas imunológicos muito debilitados.

No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um informe sobre a “produção animal em granjas industriais”, onde se destacava o agudo perigo de que “a contínua circulação de vírus (...) característica de enormes aviários ou rebanhos aumentasse as oportunidades de aparição de novos vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também que o uso promíscuo de antibióticos nas criações de suínos – mais barato que em ambientes humanos – estava propiciando o surgimento de infecções de estafilococos resistentes, enquanto que os resíduos dessas criações geravam cepas de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou um bilhão de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).

Qualquer melhora na ecologia deste novo agente patógeno teria que enfrentar-se com o monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e pecuários, como Smithfield Farms (suíno e gado) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática de suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas algumas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento de pesquisadores que cooperaram com a investigação.

Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como a gigante avícola Charoen Pokphand, sediada em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre seu papel na propagação da gripe aviária no sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do vírus da gripe suína bata de frente contra a pétrea muralha da indústria do porco.

Isso não quer dizer que nunca será encontrada uma acusadora pistola fumegante: já corre o rumor na imprensa mexicana de um epicentro da gripe situado em torno de uma gigantesca filial da Smithfield no estado de Vera Cruz. Mas o mais importante – sobretudo pela persistente ameaça do vírus H5N1 – é a floresta, não as árvores: a fracassada estratégia antipandêmica da OMS, a progressiva deterioração da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industrializada e ecologicamente bagunçada.

Mike Davis é professor no departamento de História da Universidade da Califórnia (UCI), em Irvine, e um especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. Ex-caminhoneiro, ex-açogueiro e ex-militante estudantil, Davis é colaborador das revistas New Left Review e The Nation, e autor de vários livros, entre eles Ecologia do Medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate a nossa porta (editora Record), e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles (Boitempo) Também é membro do Conselho Editorial de Sin Permiso.

Artigo publicado originalmente no The Guardian (27/04/2009). Publicado também, em espanhol, no Sin Permiso.

Tradução: Katarina Peixoto


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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Os russos estão voltando


Em 1952, ao assumir a Secretaria Geral da OTAN, o general britânico Lord Ismay assim definiu seus objetivos: “manter os russos fora, os norte-americanos dentro e os alemães submetidos”. Destes objetivos, apenas o terceiro parece ter-se modificado. Desde o acordo de Berlim-2002, a OTAN ficou apenas com os dois primeiros, num movimento que já vinha se definindo há muito tempo. Nem poderia ser de outro modo, já que, enquanto a OTAN é responsável por 70% do orçamento militar mundial, 50% desse montante são financiados pelos norte-americanos.

Foi esse poder militar-econômico que derrotou o Exército Soviético, levando-o à penúria orçamentária (mas não de poder de fogo, pelo menos em terra), e à sua extinção, embora renascesse como Exército Russo, e agora “liberto” das peias ideológicas que seu compromisso com o ideal comunista impunha, pelo menos simbolicamente. Um sinal dessa transformação foi a repressão na Chechênia, quando dos movimentos separatistas nessa província, começada ainda no governo de Boris Yeltsin: sua brutalidade foi marcante, apagando as cenas de um exército que não queria atirar contra seu próprio povo, como aconteceu durante os movimentos populares de 1991, quando a União Soviética estertorava.

Durante a desorganização do mundo soviético, de um lado, grupos emersos do ou em torno do finado Partido Comunista, assumiram o controle das privatizações, enriqueceram enormemente, criaram o espaço dos “oligarcas russos”, hoje citados entre as personalidades mais ricas do mundo (alguns vivendo na Inglaterra e comprando times britânicos), e ganharam o espaço do mundo financeiro. Os espaços do governo – o Kremlin – foram o despojo de grupos emergentes da antiga KGB, transformada em FSB, nova polícia política, onde despontou a liderança do jovem Vladimir Putin.

Quando o governo de Yeltsin se dissolveu em suas contradições (em que não faltaram “acusações” de alcoolismo ou suspeitas de doenças neurológicas incuráveis), este passou o bastão ( ou a coroa, já que ele se esforçara por restaurar a pompa czarista) a Putin, que representava a única coisa organizada que sobrara no combalido espaço político russo, à exceção dos oligarcas, em cujo meio não faltavam sequer os antigos reis do contrabando de tudo, dos tempos da finada União Soviética. Era a coisa lógica, já que junto com o Kremlin, Yeltsin passava a mala ou maleta que comanda o segundo poder nuclear do planeta, algo com que não se pode brincar nem deixar ao alcance de gente que joga na roleta financeira.

Não só isso: o comportamento “novo-rico” dessa nova “elite” russa é notoriamente espantoso, provocando críticas até mesmo entre alguns de seus membros, como Alexander Lebeder, que disse que seus “colegas” não conseguem se divertir com artes ou espetáculos, mas que para eles a única forma de impressionar os outros é algo como construir iates extravagantes.
Putin, que fora alto funcionário da KGB e comandara eventualmente a FSB, dispôs-se a reorganizar o estado soviético. Reaproximou-se e começou a reequipar o Exército Russo. Em sucessivos pronunciamentos mandou recados muito claros a Bush e aos líderes da União Européia de que os dias da confusão de Yeltsin tinham terminado. Começou a reorganizar o comércio exterior de armas e produtos afins da Rússia, consolidando a semi- ou pára-estatal Rosoboronexport como empresa com controle exclusivo do setor, com o comando de seu amigo dos tempos de KGB, Sergei Chemezov, hoje um dos magnatas russo da área.

Começou um “lento, seguro e gradual” trabalho de enquadramento dos “oligarcas”. Não os combateu, e ainda pairam sobre seu governo acusações de não combater devidamente a corrupção que eles levaram a níveis estratosféricos no estado russo (embora sobre Putin não pairem suspeitas consistentes de envolvimento). Alguns processos estratégicos, algumas condenações pontuas, sinalizaram que os tempos tinham mudado.

Para completar, a crise econômica jogou o que restava dos “oligarcas” em seus braços, ou melhor, nas contas do governo russo, e como devedores ou pedintes. Alguns desses magnatas perderam bilhões (a estimativa fala em de 230 a 260 bilhões dólares) em poucos meses; investimentos em empresas alemãs, norte-americanas, britânicas e outras se desfizeram em matéria de semanas.

A Rússia se enfraqueceu com a crise? Não exatamente. O Kremlin se fortaleceu, interna e externamente. Nessa nova moldura, entende-se perfeitamente que o presidente Barack Obama tenha acenado com uma détente militar em relação à Rússia. Além de eventuais intenções mais pacifistas ou, pelo menos, não tão belicosas quanto as de seu antecessor, trata-se para Obama de reconhecer que há um novo desenho a se esboçar no leste europeu, e que a nova/velha Rússia, como Fênix, se reergue dos escombros da União Soviética.

Ou seja, os russos estão mesmo de volta, e isso terá conseqüências muito significativas no mapa regional e mundial.


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Nos 100 dias no poder, um Obama sob pressão


Depois das viagens à Europa e à América Latina, o presidente Barack Obama é cobrado pela oposição interna à direita (onde o ex-vice Dick Cheney e outros, na tela da Fox, só faltaram expô-lo ao país como anti-americano e até ameaça à segurança nacional) e à esquerda (por críticos aliados do Partido Democratas, impacientes ante a aparente timidez na mudança de rumo da política externa).

A contradição resulta do próprio jogo de cintura que permitiu a Obama chegar à Casa Branca. Na campanha ele teve de temperar a pregação de mudança (o seu Change era proclamado em toda parte) e às vezes distanciar-se dos mais firmes na exigência de compromisso maior com ela. Equilibrava-se, por exemplo, na corda bamba policiada pelos lobbies de Israel e da máfia cubana de Miami.

Claro que não são os únicos lobbies. Com ginástica idêntica sua campanha teve de conter ainda o das armas, da poderosa NRF, Asssociação Nacional do Rifle, e outros. Mas no campo da política externa aqueles parecem emblemáticos. O exercício da presidência exclui naturalmente a ambiguidade do candidato, já que exige decisões. E por causa delas Obama agora tornou-se alvo permanente.

Um refém das políticas de Bush?
A preocupação maior para o processo de tomada de decisões no novo governo é o próprio legado do antecessor. Como libertar-se da camisa de força deixada pela dupla Bush-Cheney, que ameaça manter Obama como refém? Se antes o repúdio à aventura neoconservadora era quase unânime, devido ao acúmulo de desastres dos últimos oito anos, porque seria tão difícil mudar o rumo agora?

A desintegração econômica, outro legado desastroso do governo Bush, exigiu a atenção imediata e prioritária do presidente para o esforço de recuperação. Decisões críticas em outras áreas têm sido retardadas mas terão de ser enfrentadas. Ao mesmo tempo a oposição conservadora reorganiza-se. Até já produziu o espetáculo nacional das tea parties, cortesia do império Murdoch de mídia sob o disfarce de “evento popular”.

Obama avança a duras penas. Para aliados à esquerda, o ritmo é lento. Para a oposição conservadora - como Cheney deixou claro esta semana na entrevista a Sean Hannity, da Fox News - o que está sendo feito já representa ameaça ao país. Sem tortura e criticada pelo que faz, sugeriu ele, a CIA será incapaz de prevenir ataques como o 11/9. E mais: acenos a Cuba e troca de sorrisos com a Venezuela expoem fraqueza intolerável.

É repulsivo ver a dupla Bush-Cheney queixar-se de Obama por não fazer cara feia para o presidente Hugo Chávez, que ousou festejá-lo em Trinidad e Tobago, na V Cúpula das Américas, e oferecer de presente a tradução inglesa de As Veias Abertas da América Latina, o livro de Eduardo Galeano que toda uma geração leu em espanhol e português na tentativa de entender melhor a história e a tragédia do continente.

O meio século de contradições
O pouco que Obama já fez, na visão oposicionista republicana, ultrapassou todos os limites. Não só na América Latina. Ele é cobrado ainda pelo excesso de gentileza no G-20 e na Europa, onde cometeu o impatriotismo de prometer uma reversão da arrogância de Bush, que afrontou aliados tradicionais como França e Alemanha. Note-se que nada, por enquanto, foi além de simbolismo e promessas implícitas.

Em relação à América Latina, horroriza os conservadores o conjunto crescente de países determinados a superar a equação obsoleta da guerra fria. Quanto a Cuba, que sobrevive ao embargo americano de quase 50 anos e continua fora da OEA (Organização dos Estados Americanos) por imposição dos EUA, Obama corre até o risco de um repúdio público e unânime de todos os outros 33 países.

De qualquer forma, foram significativas tanto as medidas já decididas em relação a Cuba (fim das restrições mantidas pelo governo Bush sobre viagens e remessas de dinheiro de cubano-americanos), como a disposição de conversar e negociar. E ainda o elogio às declarações de Raul Castro de que está preparado para diálogo substantivo, sem veto a qualquer questão.

É bom não esquecer que o pretexto dos EUA para isolar Cuba no continente por tanto tempo foi a suposta falta de democracia e violação de direitos humanos. Mas à época da decretação do embargo, a expulsão de Cuba da OEA só tinha sido possível porque o governo de Washington comprou, com suborno, alguns votos de ditadores – como Papa Doc, do Haiti, e Anastasio Somoza, da Nicarágua.

Entre o sonho e a realidade
Da mesma forma, os EUA impuseram condições para realizar (em Miami, 1994) a I Cúpula das Américas. Excluiram Cuba a pretexto de não ser uma democracia. O fato de ter sido o Peru governado 10 anos (até 2000) pela ditadura de Alberto Fujimori e seu homem-forte Vladimiro Montesinos (torturador formado na School of the Americas, do Exército americano, hoje WHINSEC) nunca incomodou.

Fujimori responde hoje por crimes contra a Humanidade. O facínora Montesinos, ex-espião da CIA, foi mais tarde condenado por corrupção, roubo, narcotráfico e tráfico de armas. E enquanto Cuba era punida com embargo, sucessivos governos dos EUA mantiveram relações promíscuas com as ditaduras da Argentina, Brasil, Chile, Uruguai, etc, etc - algumas delas instaladas graças à ajuda americana.

Compreende-se a impaciência dos aliados mais à esquerda do Partido Democrata. Não sonhavam tolerar governo até certo ponto refém das políticas desastrosas de Bush. Mas sabiam desde a campanha do risco de se apoiar candidato com agenda capaz de abrigar tendências múltiplas. Apostaram na promessa de mudança e terão o fim da era Bush, mínimo esperado. Quanto ao resto, terão de ser realistas.

Blog do Argemiro Ferreira


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terça-feira, 21 de abril de 2009

O que Obama pode fazer na América Latina?


E se Barack Obama pegasse a colunista do The Nation, Katrina Vanden Heuvel, ou a âncora do DemocracyNow!, Amy Goodman, para lhe aconselharem na próxima Cúpula, onde há 75 anos o presidente Franklin Delano Roosevelt fez algo parecido, quando chamou o ex-editor do The Nation e crítico ferrenho do militarismo dos EUA para assessorá-lo em política latino-americana? Como resultado – considere este seu curioso, ainda que pouco conhecido, fato do dia – o anti-imperialismo salvou o império Americano.

Roosevelt assumiu o cargo em 1933 para não apenas estabilizar a economia estadunidense, mas acalmar um mundo inflamado: o Japão tinha invadido a Manchúria um ano antes; os nazistas tinham tomado o poder na Alemanha; os imperialistas europeus estavam endurecendo suas relações sobre as colônias e a União Soviética tinha declarado sua estratégia militante do “terceiro período”, imaginando que o capitalismo global, mergulhado na Grande Depressão, estava nos últimos suspiros.

Quando pouco depois da sua posse Roosevelt pôs em marcha um chamado às “nações do mundo” para “fazerem um solene e definitivo pacto de não-agressão”, os colonialistas, militaristas e fascistas que dirigiam a Europa e a Ásia empacaram, porque os objetivos globais do novo presidente estavam distantes das suas ambições globais, a Conferência Econômica de Londres – que se reúne em julho e equivale ao encontro do G20 de hoje – dissolveu-se rancorosamente sem consenso a respeito de como responder ao derretimento global do momento.

Para a sorte de Roosevelt, a septuagésima Conferência Pan-Americana estava marcada para aquele dezembro em Montevidéu, Uruguai. A própria idéia do Pan-americanismo – de que as repúblicas americanas compartilhariam ideais e interesses políticos comuns – estava reconhecidamente moribunda. Ano após ano, em cada fórum internacional, delegados da América Latina simplesmente se submetiam às diretivas de Washington, enquanto silenciosamente se enraiveciam com as então recentes intervenções militares estadunidenses – no Panamá, em Cuba, Porto Rico, México, Venezuela, Honduras, República Dominicana ou Haiti. (À sua escolha).

O momento era então de construir com as nações latino-americanas uma revisão do direito internacional que efetivamente garantisse às grandes potências o direito de intervenção nos negócios das repúblicas menores. Diplomatas venezuelanos, por exemplo, insistiam que os EUA afirmassem o princípio da soberania absoluta. Argentinos seguiram adiante com seu próprio acordo de “não agressão” determinando a não-intervenção como o direito do hemisfério. Os caribenhos e os políticos da América Central insistiram que os destacamentos da Marinha dos Estados Unidos, então atolados em operações de contra-insurgência na Nicarágua, no Haiti e na República Dominicana fossem embora.

FDR despachou seu Secretário de Estado Cordel Hull para a cúpula, mas o instruiu a não oferecer nada mais que uma promessa de construção de algumas novas estradas. A exigência de que os Estados Unidos desistissem do direito de intervenção era “inaceitável”.

Ainda assim Roosevelt, que tinha um jeito de reunir e agregar conselheiros improváveis, também pediu a Ernest Gruening (recomendado pelo professor de direito da Universidade Harvard que em breve seria membro da Suprema Corte de Justiça, Felix Frankfurter) a acompanhar Hull. Em 1964, um senador do Alasca, Gruening, iria se tornar famoso por ser um dos dois únicos votos contrários à Resolução do Golfo de Tonkin, que o presidente Lyndon Johnson iria usar para deflagrar a Guerra do Vietnã, mas nos anos 30 ele já era um anti-imperialista comprometido.

Nas páginas do The Nation e em outros jornais de tendência de esquerda ele tinha ajudado a expor o uso da tortura, do trabalho forçado e dos assassinatos políticos que tiveram lugar sob as ocupações da Marinha no Caribe. Atrocidades que ele comparava às da brutalidade européia na Índia, na Irlanda e no Congo. Depois de visitar o Haiti e a República Dominicana, ele fez pressão no Congresso para que o Congresso desse fim ao fundo das operações de contra-insurgência da região, e condenou a “horda de concessionárias carpetbaggers[1] que seguem o campo militarista do imperialismo norte-americano”. Uma crítica inflexível como essa da diplomacia norte-americana ser escolhida para aconselhar o Secretário de Estado reflete a força da esquerda nos anos 30 – e a vontade de Roosevelt de trazê-la para si.

Queimando “e Murdewin”

Enquanto a delegação amarrava as velas em Montevidéu, Gruening ficou chocado ao saber que os EUA “não tinham programação exceto a de ser amigável com todo mundo e irradiar boa vontade”.

“Senhor Secretário”, reportou ele se dirigindo a Hull, “a única questão que concerne a todo país latino-americano é a intervenção. Nós deveríamos nos pronunciar fortemente por uma resolução abjurando isso”.

Hull, que Gruening descreveria mais tarde como falando com o sotaque carregado dos nascidos e criados como membros da elite do Tennessee, saltando os “g” e lutando com os “r”, respondeu que esse seria um negócio difícil de fazer.

“O que é que eu vou fazer quando o caos estourar em algum desses países e bandos armados saírem queimando, pilhando e assassinando americanos?”, perguntou Hull. “Como posso dizer ao meu povo que não intervenha?”

“Senhor Secretário”, repondeu Gruening, “isso geralmente acontece depois que nós intervimos”.

Mas Hull estava com medo da imprensa malvada. “Seu eu tivesse que ir a público contra a intervenção”, ele disse, “os jornais do [grupo] Hearst[2] vão me atacar de costa a costa...Lembre-se, Gwuening, o Senhor Woosevelt e Eu (“Ah”) temos de ser reeleitos (“weelected”).

“Vir a público contra a intervenção lhe ajudaria a ser reeleito”, respondeu Gruening. Iria, insistiu, ajudar o New Deal a dar a volta por cima na agenda da invasão, ocupação e insurgência que tinha danificado o prestígio dos EUA na América Latina e em boa parte do mundo.

Ele estava certo. Em Montevidéu Gruening ajudou a estabelecer uma ponte entre os enviados estadunidenses e os diplomatas latino-americanos “anti-americanos”, inclusive os de Cuba onde, bem antes da revolução de Fidel Castro, várias intervenções estadunidenses tinham estremecido as relações entre Havana e Washington. Mais importante, ele reconciliou o Secretário de Estado com o princípio de não-intervenção.

Hull “saiu-se magnificamente na ocasião”, escreveu Gruening, anunciando que os Estados Unidos iriam, de agora em diante “afastar e rejeitar” o “assim chamado direito de conquista...O New Deal na verdade seria uma bravata vazia se não levasse isso a sério”. Os delegados da América Latina interromperam sua fala em “aplausos tempestuosos e saudações”. E FDR, já um político ágil, aproveitou o momento, confirmando que “a política definitiva dos Estados Unidos de agora em diante é oposta à intervenção armada”.

“Nossa Era de 'Imperialismo' se aproxima do Fim”, anunciou o New York Times. O “Destino Manifesto” está dando lugar à Nova Política do “Tratamento Igualitário com Todas as Nações”.

Vinte e um diferentes tipos de ódio

Não o bastante, é claro. Washington retornaria à política do intervencionismo na era da guerra fria. Ainda assim, a importância dessa mudança de corrente não pode ser superestimada.

Montevidéu foi para Roosevelt a primeira política externa bem sucedida, marcando uma mudança no destino do país como superpotência ascendente. Ele então ordenou a retirada da Marinha do Haiti, enquanto devolvia ao país seu banco nacional; ele aboliu a odiada emenda Platt da constituição cubana, que tinha tornado a ilha um estado-vassalo; e começou a tolerar um grau de nacionalismo econômico na América Latina, inclusive a expropriação mexicana do holding da Standard Oil.

A enorme popularidade de FDR na América Latina incendiou suas aspirações de liderança mundial. Visitando Buenos Aires em 1936, ele foi recebido com festa por mais de um milhão de pessoas em êxtase, que o “ovacionaram calorosamente” e “bombardearam-no com flores”. Mesmo a imprensa geralmente cética de Buenos Aires anunciou-o como um “pastor da democracia”, enquanto nos hospitais se esperava uma enorme safra de “Roosevelts dentre os bebês meninos”, a despeito da interdição de nomes estrangeiros para crianças.

Relações melhores com a América Latina também ajudaram aos EUA a se reconstruírem da Grande Depressão. Com a Ásia fora dos limites e a Europa voltada para a guerra, Washington buscou no Sul tanto mercados para produtos industrializados como para matérias primas, negociando tratados de comércio com quinze países latino-americanos, entre 1934-1942.

Mais importante, a América Latina tornou-se o laboratório para o que viria a ser eventualmente conhecido como o multilateralismo bilateral – a rede diplomática que, depois da Segunda Guerra Mundial, iria permitir aos EUA acumular poder sem precedentes. Com a Liga das Nações praticamente morta, os diplomatas começaram a discutir a possibilidade de uma nova “Liga das Américas”, que iria eventualmente evoluir tanto para a Organização dos Estados Americanos como para as Nações Unidas. (Cada uma dessas preservando em seu âmbito o princípio da absoluta não intervenção) O próprio Roosevelt iria tomar a “ilustração das repúblicas deste continente” como um modelo para a reconstrução global do pós-guerra.

Cordel Hull ganhou o Prêmio Nobel da Paz por ajudar a fundar a ONU e FDR ganhou o crédito por ter superado “várias vezes os vinte e um tipos de ódio” para “vender a idéia da paz e da segurança dentre as repúblicas americanas”. Mas os agradecimentos deveriam na verdade ir para anti-imperialistas como Gruening e para os guerrilheiros, como Augusto Sandino, da Nicarágua, que tornou o militarismo uma política externa insustentável.

Setenta e Cinco Anos Depois....

Os paralelos com os dias atuais são inequívocos: uma economia global em farrapos; um novo presidente com um mandato de reforma, mas bloqueado externamente pelo levante de rivais e lesionado pela rápida recessão do poder e do prestígio dos Estados Unidos graças aos anos de militarismo arrogante e unilateral. E, seguindo no calcanhar da Cúpula das potências econômicas em Londres, uma conferência latino-americana: a Quinta Cúpula das Américas, a que comparecerão trinta e quatro chefes de Estado representando cada país Americano exceto Cuba.

A última vez que essa Cúpula se reuniu no prédio de um Resort Argentino, em Mar del Plata em 2005, os argentinos saudaram George W. Bush não como um pastor da democracia, mas como um evangelizador da guerra, do militarismo e do capitalismo selvagem. Milhares se reuniram ao longo de todo continente para queimar bonecos dele. Os representantes da Venezuela, Hugo Chávez e da Bolívia, Evo Morales, reuniram-se numa festividade paralela, a “Cúpula dos Povos”, enquanto o legendário jogador argentino Maradona chamou Bush de “ lixo humano” e “um pedaço de um assassino”. Para parafrasear o vencedor do Oscar Michael Moore na sua homenagem a Dixie Chicks, quando Maradona está contra você, seu tempo na América Latina se esgotou.

Com uma aeronave de carreira estacionada ao lado e jatos de bombardeio sobrevoando sua cabeça, Bush ainda parecia nervoso e claramente fora do lugar. Chegando apenas alguns poucos meses depois do Furacão Katrina ter devastado New Orleans, com a deriva no Iraque saindo do controle, a performance desastrosa de Bush na Argentina, combinada com uma impressionante exposição de unidade latino-americana, acelerou o declínio das pretensões dos neoconservadores à supremacia global. “Os Estados Unidos continuam a ver as coisas de um só modo”, disse um diplomata latino-americano na cúpula, “mas a maioria do resto do hemisfério se moveu e está sendo levada para outra direção”.

E assim tem sido, com uma virada à esquerda que começou com a eleição de 1998 de Chávez como presidente da Venezuela e continua velozmente. No ano passado, finalmente, o Paraguai elegeu um teólogo da libertação como presidente; e no mês passado a Frente de Libertação Nacional Farabundo Martí – o grupo guerrilheiro que se tornou partido político e que Ronald Reagan gastou 6 bilhões de dólares e 70 000 vidas salvadorenhas tentando derrotar nos anos 80 – finalmente chegou ao poder em El Salvador.

Nesta semana muitos estarão aguardando para ver se Barack Obama, no que será seu primeiro engajamento real com a América Latina, está pronto para reverter o curso nesta cúpula, como o fez Roosevelt mais de três quartos de século atrás. Para os Estados Unidos, a América Latina não tem sido apenas uma fonte de matéria prima e de mercados, mas uma “oficina”, um lugar em que coalizões de política externa em ascensão tentam novas maneiras de projetar o poder dos Estados Unidos na sequência de períodos de crise aguda. FDR fez isso, como o fez Reagan e a Nova Direita quando, nos anos 80, usaram a América Central para experimentar com um multilateralismo chapado, enquanto remilitarizava e remoralizava a política externa.

Hoje, o presidente Obama é tremendamente popular na América Latina. Uma série de políticos da região estão adotando inclusive legalmente seu nome para darem a si mesmos vantagens eleitorais, e indubitavelmente uma certa quantidade de bebês será chamada de Barack. O presidente do Brasil conhecido simplesmente como Lula disse que está torcendo por Obama – e até Madona admite que “gosta muito” dele.

Mas só com a popularidade já se vai longe. Pela primeira vez em muitas décadas, um presidente dos Estados Unidos pode dar-se conta de que os dias em que os EUA podiam usar a América Latina como um espaço para o ensaio do imperialismo estão chegando ao fim.

A opção colombiana

Então, o que Obama vai oferecer em Trinidad e Tobago? Ele vai, como Hull em 1933, ter a intenção de uma “boa vontade radiante”, mas não vai necessariamente “ser amigável com todo mundo”. Ele já envenenou a água ao insistir em tratar Hugo Chávez como um “obstáculo” ao progresso. Amando ou odiando Chávez, ele é reconhecido como um líder legítimo por todos os países da América Latina e é próximo de muitos deles. Por oito anos, a política da Administração Bush de estabelecer à força uma diferença entre a Venezuela e o resto da região provou-se um fracasso sombrio, exceto no que concerne ao aumento do fluxo hemorrágico do poder de Washington no hemisfério.

Em muitos fronts, contudo, é provável que o presidente descubra que seus obstáculos reais ao progresso com a fronteira sul repousam desconfortavelmente próximos de casa.

Na preparação para a Cúpula, a administração Obama fez algumas aberturas para Cuba, respondendo a demandas de quase todos os países latino-americanos para que Washington dê um fim à guerra fria contra Havana. A necessidade de manter senadores democratas da Flórida a Nova Jérsei (estados com grandes populações de americanos-cubanos) no curral significa que o embargo geral para viagens e comércio vai, contudo, manter-se no lugar, pelo menos por ora. (Em 1933, Hull tentou evitar que o enviado de Cuba falasse, temendo que ele fizesse uma fala feroz contra os EUA; Gruening apelou ao princípio da livre expressão para reverter esse banimento.)

Obama vai provavelmente reiterar as declarações oficiais recentes da Secretária de Estado Hillary Clinton, dentre outras, de que os EUA assume a responsabilidade real pela violência da guerra da droga no México e talvez lastime o modo como “uma inabilidade para evitar que armas fossem contrabandeadas pela fronteira” alimentasse assassinatos. Como toda administração, contudo, Obama terá de responder à Associação Nacional do Rifle (NRA em inglês), que a esta altura leva a cabo sua própria política externa.

Em 2005, por exemplo, quando o Brasil fez um referendum para implementar uma lei de controle de armamentos, o NRA gastou uma quantidade considerável de dinheiro fazendo lobbie para conseguir derrotar a proposta. De fato, o senador do Wyoming John Barrasco espera usar o medo da violência mexicana decorrente das drogas para forçar uma maior distribuição de armas de defesa. Como ele tratou da questão “Por que você desarmaria as pessoas quando elas poderiam ser pegas no fogo cruzado?...Os Estados Unidos não vão derrotar nossos direitos à Segunda Emenda em função dos problemas da fronteira do México”.

E por aí vai: em quase todas as questões que poderiam ou ajudar verdadeiramente a apaziguar o sofrimento dos latino-americanos ou permitir que os EUA retomem aliados estratégicos, políticos domésticos vão bloquear o alcance das ações de Obama, senão sua popularidade imediata.

Só recentemente um grupo de estudos organizado por alguns intelectuais latino-americanos de ponta e analisas políticos, inclusive ex-presidentes do Brasil, da Colômbia e México declararam que a guerra dos EUA contra as drogas fracassou e recomendou a legalização da maconha. Obama é obviamente simpático a essa posição, tendo instruído seu Departamento de Justiça a cessar as perseguições ao uso medicinal da maconha. Mas ele estará pronto para priorizar a guerra contra as drogas na América Latina? Provavelmente não.

Como candidato, o presidente disse que não iria se opor a todas as guerras, só às estúpidas – e essa é a mais estúpida possível. Essa guerra não diminuiu as exportações de narcóticos para os Estados Unidos, mas espalhou violência da América Central ao México, enquanto entrincheirou poderes paramilitares na Colômbia. O Plano Colômbia, peça central dessa guerra, é um legado da política externa de Bill Clinton, e a maior parte do seu custo de 6 bilhões de dólares foi depositado diretamente nos cofres das corporações que financiam o partido democrata, como a United Technologies, do Connecticut e outras empreiteiras de defesa do Nordeste.

No lugar de desmantelar o Plano Colômbia, há planos que estão evidentemente em andamento para replicá-lo para além das Américas. O almirante Mike Mullen, Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA comentou recentemente que “muitos de nós, de todos os países do mundo podem aprender com os muito bem sucedidos desenvolvimentos do Plano Colômbia” e sugeriu que ele fosse franqueado “especificamente para o Afeganistão”. O correspondente da Casa Branca do Washington Post, Scott Wilson concorda com que Obama use a Colômbia como uma “sala de aula para aprender como lidar com o Talibã”. Sob a recomendação de Wilson há uma revelação esscondida: os oficiais dos Estados Unidos, escreveu, contaram-lhe “privadamente” que o esquadrão da morte do terror era o primeiro passo necessário no Plano Colômbia, servindo como um “substituto” até que o os EUA pudessem treinar um exército “profissional”. A administração Bush manteve “o fluxo de dinheiro para o exército da Colômbia a despeito das evidências de sua cumplicidade com massacres protagonizados por paramilitares”.

O caminho para a América Latina passa por Brasília...

Basicamente, o único caminho real do imperialismo de Washington pode passar rapidamente pela capital do Brasil, Brasília. Afinal de contas, Obama não trata a região como um líder de uma superpotência confiável, mas como um hegemon outonal. Como tal, sua melhor opção pode residir na formação de uma parceria com o Brasil – a economia latino-americana mais diversificada, com a recentemente descoberta de reservas de petróleo na costa e um conjunto enjoativo de aspirações políticas – para administrar o hemisfério. A Casa Branca reconhece claramente que esse é o caso, e é por isso que um oficial do governo convidou Lula para um encontro privado com Obama, num reconhecimento por parte de Washington da “ascendência global” do Brasil.

Pouco antes do encontro do G-20 em Londres, Lula culpou o “comportamento irracional dos povos brancos” e de “olhos azuis” pelo colapso financeiro. Sentado próximo ao empalidecido primeiro ministro britânico Gordon Brown, ele continuou: “Eu não conheço nenhum negro ou indígena banqueiro, então eu só posso dizer [é errado] que essa parte da humanidade, que é vitimada mais do que qualquer outra, deva pagar pela crise”.

Se essas palavras tivessem saído da boca de Chávez, teriam sido tomadas como a última manifestação de seu anti-americanismo irracional, mas a administração de Obama precisa de Lula. Em Londres, Obama mal pôde se conter: “Este homem aqui”, disse ele, puxando Lula pela mão enquanto o secretário do tesouro Timothy Geithner olhava. “Eu adoro esse cara. Ele é o político mais popular da terra. É por causa de sua boa pinta”. Isso certamente representa uma melhora significativa em comparação com George Bush, que perguntou ao predecessor de Lula, “Vocês também têm negros?”.

Ainda assim a cooperação do Brasil vem com um preço que Obama terá problemas para resolver. Os barrocos e inchados subsídios agrícolas e os benefícios fiscais – que os membros da Câmara e do Senado recusaram recentemente que Obama cortasse – vão impedir que o presidente se renda de bom grado à principal demanda de Lula: que os EUA deixe de lado sua retórica a respeito do livre comércio e abra sua economia para a agro-indústria competitiva do Brasil.

Pelos arredores de Caracas...

E há a Venezuela. Setenta e cinco anos atrás, o Secretário de Estado Hull temia que os jornais do grupo Hearst o atacassem “de costa a costa” se ele renunciasse ao intervencionismo. Bem, há mais coisas mudando...

Quando o Departamento de Estado de Obama declarou que o recente referendum da Venezuela para remover os limites de prazo do mandato presidencial (e então permitir que Chávez seja indefinidamente reeleito) era uma questão interna “consistente com princípios democráticos”, houve um ataque no Houston Chronicle, que é de propriedade – adivinhe só – da Hearst Corporation. Mais algumas críticas se seguiram, enviando alguns funcionários públicos para a “fogueira”: de acordo com o Wall Street Journal, “para assegurar que a administração Obama não tinha abrandado a política estadunidense com a Venezuela”.

À medida que a atual demonização de Chávez não acarreta absolutamente custos domésticos e é facilmente carregada de débitos potenciais, Obama pode ser forçado a manter algumas versões da administração Bush da linha dura, talvez dando cobertura ao presidente para uma retórica moderada, senão política, onde há um perigo real muito maior em jogo – como no Oriente Médio.

...E termina no Texas

Imigração é uma área em que Obama pode ter algum espaço de manobra, mas ele teria de vencer a ala Glenn-Beck do partido republicano. Mandando que os agentes da imigração e da alfândega parassem de caçar trabalhadores latino-americanos sem documentos (como os presidentes do México e da América Central tinham demandado) e abrindo uma via real para a cidadania seriam um grande passo em direção à melhoria das relações com os vizinhos do sul. Também seria uma garantia da lealdade do voto latino em 2012 e, ao criar milhões de novos eleitores, talvez levasse o Texas a uma situação eleitoral próxima dos estados com status indefinidos eleitoralmente.

Retornando à cena do crime

No final das contas, porém, a visão de Obama será limitada pela pequeneza de imaginação dos assessores de que está cercado. Não há nem Gruenings nem mesmo Hulls nesse grupo. Ele manteve da administração Bush o assistente da Secretaria de Estado da América Latina Thomas Shannon e escolheu Jeffrey Davidow para ser seu assessor especial na cúpula.

Diplomata de carreira, o trabalho de Davidow tem sido vastamente irrelevante, ainda que seu primeiro posto tenha sido na Guatemala no início dos anos 70, quando os esquadrões da morte sustentados pelos Estados Unidos estavam funcionando com fôlego, e foi seguido por um posto de oficial júnior no Chile, onde observou o golpe militar sustentado pelos Estados Unidos que derrubou o presidente eleito Salvador Allende. Comprometido com o mantra da liberalização econômica da era Clinton, esses diplomatas jamais irão recomendar o tipo de jogo de mudança de idéias que Gruening fez.

Dado que a crise financeira global vai dominar essa cúpula, a presença de Obama será vista por alguns como um retorno à cena do crime. Afinal de contas, foi no Chile que o modelo agora desacreditado de capitalismo desregulado foi pela primeira vez imposto. Isso ocorreu bem antes dos presidentes Reagan e Clinton o adotarem nos Estados Unidos.

Como esse modelo se espalhou para o resto da América Latina, os resultados foram absolutamente desastrosos. Por duas décadas, estagnação das economias, aprofundamento da pobreza e crescimento da desigualdade. Para tornar as coisas piores, exatamente quando uma nova geração de esquerda, tomando medidas para diminuir a pobreza e reduzir a desigualdade estavam se recuperando da catástrofe induzida por Washington, uma temerária bolha imobiliária nos Estados Unidos derrubou a economia global.

Os latino-americanos vão querer cobrar a fatura. Como até o presidente colombiano Álvaro Uribe, um aliado próximo dos EUA, disse, “o mundo inteiro tem financiado os Estados Unidos e eu acredito que eles têm um débito recíproco com o planeta”. Hugo Chávez não poderia ter dito melhor.

Notas:
[1]: Carptebagger é a expressão usada para designar candidatos forasteiros, que disputam cargos em outro estado que não o seu de origem, a fim de obter vantagens eleitorais. A origem do termo remonta ao período de reconstrução do pós-guerra de secessão, quando houve uma imigração do norte para o sul. Os sulistas passaram a chamar de carpetbaggers os imigrantes brancos que chegavam com uma espécie de matulão, um saco de roupas e pequenos utensílios de uso pessoal, prontos para, junto aos negros recém libertos e aos brancos de sul que apoiavam a reconstrução no partido republicano, ganhar dinheiro e obter poder. Juntos eles controlaram politicamente os ex-estados confederados por vários períodos. Os sulistas os tratavam como pilhadores e usurpadores do Sul, e assim o termo passou a ter uma conotação de pára-quedista político, de aproveitador. N.deT.

[2]: Grande Corporação de Mídia dos EUA, fundada 1887 pelo empresário William Randolf Hearst. N.deT.

Greg Grandin é professor de história na New York Univesity e um dos grandes especialistas em história latino-americana dos Estados Unidos. É autor do recentemente publicado Empire's Workshop: Latin America, The United States, and the Rise of the New Imperialism(Metropolitan).

Publicado em 15 de abril no The Nation

Tradução: Katarina Peixoto


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segunda-feira, 13 de abril de 2009

O significado político da greve de fome de Evo Morales


Após as primeiras 30 horas de greve de fome, o presidente da Bolívia, Evo Morales, passou sem problemas pelo primeiro exame médico, realizado pelo ministro da Saúde, e pediu a seus seguidores que suspendam o jejum até a segunda-feira, para não prejudicar as celebrações da Páscoa. No entanto, as adesões à greve de fome para forçar o Congresso a aprovar uma nova lei eleitoral se massificaram em todo o país nos últimos dias. A oposição, que na quinta-feira deixou sem quorum a sessão do Congresso, após a aprovação dos termos gerais da nova legislação eleitoral, negou-se e voltar ao parlamento, apesar dos insistentes pedidos do vice-presidente boliviano e presidente do Congresso, Álvaro García Linera, que se comprometeu a cumprir os acordos firmados em uma comissão de concertação.

“Vou esgotar todas as instâncias possíveis, empregarei tudo o que estiver ao meu alcance para conseguir com que os opositores não fujam de seu trabalho e estejam aqui, ainda que na base de gritos e insultos, para defender seu ponto de vista”, sustentou a segunda autoridade boliviana, enquanto se via obrigado a declarar uma nova interrupção nos trabalhos. Os adjetivos que Linera recebeu na véspera não foram poucos: “maricón”, “terrorista fracassado” – em referência ao seu passado guerrilheiro – foram algumas das expressões usadas por parlamentares de direita na maratona de 24 horas que marcou a sessão que terminou com a saída da oposição logo após a aprovação dos termos gerais da lei. Essa norma é necessária para cumprir com o mandato da nova Constituição que definiu a realização de eleições presidenciais e parlamentares no dia 6 de dezembro deste ano.

A principal reivindicação da direita é refazer desde zero todo o padrão eleitoral, o que é considerado por Evo Morales como uma tentativa de sabotar as eleições. Nesta disputa – a quarta desde sua chegada ao poder em 2006 – o presidente boliviano buscará sua reeleição, prevista na nova Constituição por uma única vez. Em que pese a imagem exótica de ver um presidente em um pequeno colchão com uma dieta de água e balas, Evo Morales, de 49 anos, está mais do que curtido nestas questões. “Seguramente, pensaram em me vencer pelo cansaço”, ironizou Morales, ao mesmo tempo em que recordava que já esteve em outras greves de fome desde que ingressou na luta sindical campesina, em 1985, como a que realizou em 2002, logo depois de sua expulsão do Congresso, quando ficou mais de 18 dias em jejum.

Fontes do governo e da oposição concordam que, tecnicamente, há acordo e que falta apenas a decisão política de aprovar a norma. “A lei vai ser aprovada, mas é melhor que seja no marco de um consenso amplo”, assinalou o senador moderado de oposição, Carlos Börth, que calculou em um mil o número de pessoas que aderiram à greve de fome no país. A oposição teme especialmente o voto dos bolivianos no exterior, sobretudo o dos residentes na Argentina, em sua maioria de origem campesina. E não confia na transparência da contagem de votos nas embaixadas. A isto soma-se uma discussão acerca do número de circunscrições especiais indígenas, que buscam garantir a representação das etnias minoritárias. A oposição diz que o apoio de quase 100% à nova Constituição, registrado em algumas comunidades rurais, seria uma prova de fraude.

Para o governo, a “unanimidade” é uma simples constatação das práticas indígenas: decide-se em assembléia em quem votar e depois se vai às urnas para cumprir o que foi decidido. E o crescimento do padrão eleitoral é resultado da inclusão cidadã mediante o fornecimento de documento de identidade aos camponeses. Em meio à carência de líderes nacionais de oposição, nos últimos meses cresceu a figura do ex-vice-presidente aymara Victor Hugo Cárdenas, que teve sua casa “expropriada” por indígenas há poucos dias, por ter chamado voto “não” à Constituição. Mas seu passado como vice de Gonzalo Sánchez de Lozada – que fugiu do país, foi morar nos Estados Unidos e é processado pela repressão na guerra do gás de 2003 – parece uma hipoteca difícil de resgatar na hora de competir com Evo Morales pela presidência da República.

Tradução: Katarina Peixoto


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Para onde vai o leste europeu?

Há muita confusão no ar. Mas uma coisa é certa: o leste europeu está passando por um “realinhamento” significativo, num movimento em que, por trás das cortinas, se digladiam a União Européia, a OTAN e a “nova Rússia” de Putin/Medvedev.

O começo de abril foi marcado por protestos – alguns violentos – em duas das repúblicas do leste europeu que emergiram da submersão da finada União Soviética.

Houve protestos pacíficos em Tbilisi, na Geórgia, contra o presidente Mikhail Saakashvili. Saakashvili chegou ao poder em 2003, no curso de um movimento batizado no Ocidente como “Revolução Rosa”. Na ocasião, foi saudado por George Bush com o apelido de “Farol da Liberdade”. O movimento afastou a Geórgia da Rússia, o que a tornou logo um alvo para a União Européia, de um lado, com sua aproximação econômica de “levar o capitalismo” a quem dele precisa; da OTAN, de outro, com sua aproximação militar de ocupação das áreas de influência de sua arquiinimiga, a Rússia.

Antes de prosseguirmos com a história dos protestos, vale uma observação: cada vez mais fica evidente que a finada União Soviética era uma espécie de “cortina de fumaça” para a “Grande Rússia”, um sonho/plano que acabou determinando uma curiosa linha de continuidade histórica entre os regimes czarista e soviético, no fim de contas. De certo modo o fim do comunismo “libertou” a Rússia de suas “peias ideológicas”, e a questão das áreas de influência retorna a galope, agora que aquele país e o Kremlin estão se reerguendo das cinzas do passado (isso será tema de um próximo artigo). Enquanto isso, a União Européia tenta alargar suas fronteiras e mercados, e a OTAN, atavicamente, continua a cercar a Rússia.

Saakashvili, o “Farol da Liberdade” de Bush, logo revelou-se adepto de métodos tirânicos. Eleito em 2008 para um mandato que vai até 2013, embalou-se no sonho de sua “Grande Geórgia”, e provavelmente com o sonho/desejo de que a OTAN viesse em seu socorro, invadiu o território da Osséssia do Sul, vista como uma “província rebelde” em relação ao seu país. Acontece que o Osséssia do Sul tornara-se uma espécie de protetorado russo, por sua vizinhança com a Osséssia do Norte, em território do Kremlin. Putin estava em Pequim, para a abertura dos jogos olímpicos do anos poassado. Realizou uma reunião de meia hora com Bush, que também estava lá, onde deve ter dito cobras e lagartos ao então presidente norte-americano (basicamente, deve ter dito: “nós vamos resolver isso do nosso modo, vocês podem espernear e protestar, mas não se metam, pois a coisa foi longe demais”). Depois, tocou-se para o lugar das operações, de onde comandou uma ofensiva dos blindados russos que varreu do mapa as tropas de Saakashvili que, aliás, foram acusadas de várias atrocidades em jornais da própria Europa.

Para completar esse quadro de desastre, a Geórgia é um dos países que vem sendo dos mais afetados pela recente crise de origem no sistema financeiro norte-americano. Resultado: as oposições, de vários tipos, que permaneciam divididas, estão em maré montante contra o presidente, cuja fama de “déspota não esclarecido” faz fortuna. Analistas políticos de dentro e de fora da Geórgia dizem que Saakashvili não vai renunciar, mas que provavelmente não terá condições políticas de permanecer no poder até o fim de seu mandato, o que vai reabrir a “questão geórgica” para norte-americanos, europeus e russos.

Alguns países mais a oeste, a pequena Moldávia passava também neste começo de abril por acontecimentos dramáticos. A Moldávia, espremida entre a Romênia e a Ucrânia, é uma pequena ilha “comunista” neste encapelado mar “capitalista”. Tudo entre aspas, porque o comunismo, como regime social, desapareceu; mas o antigo Partido Comunista, liderado por Vladimir Voronin, permanece no poder, e com apoio dos russos. Essa permanência foi confirmada no dia 7 de abril, em eleições em que Voronin obteve uma vitória apertada para a ocupação das cadeiras no parlamento (61 a 60). As oposições não se conformaram, e chamaram protestos na capital Chisinau contra o governo, alegando fraude nas eleições. Os protestos, de início pacíficos, viraram pancadaria, quando grupos bem organizados ocuparam e aparentemente saquearam o prédio do parlamento, o escritório da presidência e outros prédios governamentais.

Uma coisa chama a atenção: a participação de jovens nos protestos é muito grande. Para eles uma derrota de Voronin significaria uma aproximação maior com a União Européia e suas perspectivas de um possível capitalismo afluente. A Moldávia é o país mais pobre da Europa; tem mais ou menos 3,5 milhões de habitantes, dos quais 800 mil reivindicam a cidadania romena. Comentaristas pró-Ocidente se referem à Moldávia de Voronin como uma “república de aposentados”. Outros, mais agressivos, falam de uma “república de desdentados”. Entretanto o clima desses comentários era uma situação anterior que hoje não existe mais, qual seja, a de um capitalismo rutilante que oferecia paetês e lantejoulas para populações desiludidas com a falta de democracia e de perspectivas do finado comunismo.

Hoje, pelo contrário, o que o capitalismo vizinho oferece são as “noites de terror” em que milhares de pessoas dormem com um emprego e acordam desempregadas, o que só complica mais o caldo de cultura desse imbróglio em que se misturam ambições territoriais de “grandes pequenos países” às desilusões e esperanças muitas vezes enraivecidas com ambos os regimes, o comunista e o capitalista.

O caso complicou-se mais ainda porque, segundo o próprio governo moldavo, alguns dos manifestantes levavam bandeiras romenas. A vizinha Romênia já teve posse de grande parte do território moldavo entre 1918 e 1940, que fazia parte do sonho da “Grande Romênia”, buscado pela então monarquia vigente. Além das disputas de fronteira, há cicatrizes históricas consideráveis: o governo da Romênia alinhou-se com os nazistas durante a guerra, e o exército romeno promoveu seus próprios “progroms” na vizinha Moldávia, contra judeus e contra comunistas, ciganos e outros grupos “indesejáveis”. A re-anexação da Moldávia à Romênia significaria uma entrada imediata na União Européia, uma vez que esta já faz parte do condomínio com sede política em Bruxelas.

Voronin acusou a Romênia de patrocinar os protestos, fechou a fronteira com o vizinho, expulsou o embaixador, e prometeu endurecer a política de vistos de entrada para romenos.

Por sua vez a Rússia, que no começo do ano “enquadrou” o rebelde governo da Ucrânia através do “lockout” do fornecimento de gás durante o inverno (sem falar que mais ou menos 30% do gás utilizado na Europa vem da Rússia através de gasodutos em território ucraniano), promete sustentar o governo de Voronin; ao mesmo tempo, a União Européia tem prevista uma reunião para 7 de maio, em Praga, para a qual estão convidadas, além da Moldávia e da Romênia, a Ucrânia, a Bielo-Rússia, a Armênia, o Azerbaijão e a Geórgia (ainda) de Saakashvili, um caldo efervescente que pode entornar a sopa.


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