Flávio Aguiar
Em 1952, ao assumir a Secretaria Geral da OTAN, o general britânico Lord Ismay assim definiu seus objetivos: “manter os russos fora, os norte-americanos dentro e os alemães submetidos”. Destes objetivos, apenas o terceiro parece ter-se modificado. Desde o acordo de Berlim-2002, a OTAN ficou apenas com os dois primeiros, num movimento que já vinha se definindo há muito tempo. Nem poderia ser de outro modo, já que, enquanto a OTAN é responsável por 70% do orçamento militar mundial, 50% desse montante são financiados pelos norte-americanos.
Foi esse poder militar-econômico que derrotou o Exército Soviético, levando-o à penúria orçamentária (mas não de poder de fogo, pelo menos em terra), e à sua extinção, embora renascesse como Exército Russo, e agora “liberto” das peias ideológicas que seu compromisso com o ideal comunista impunha, pelo menos simbolicamente. Um sinal dessa transformação foi a repressão na Chechênia, quando dos movimentos separatistas nessa província, começada ainda no governo de Boris Yeltsin: sua brutalidade foi marcante, apagando as cenas de um exército que não queria atirar contra seu próprio povo, como aconteceu durante os movimentos populares de 1991, quando a União Soviética estertorava.
Durante a desorganização do mundo soviético, de um lado, grupos emersos do ou em torno do finado Partido Comunista, assumiram o controle das privatizações, enriqueceram enormemente, criaram o espaço dos “oligarcas russos”, hoje citados entre as personalidades mais ricas do mundo (alguns vivendo na Inglaterra e comprando times britânicos), e ganharam o espaço do mundo financeiro. Os espaços do governo – o Kremlin – foram o despojo de grupos emergentes da antiga KGB, transformada em FSB, nova polícia política, onde despontou a liderança do jovem Vladimir Putin.
Quando o governo de Yeltsin se dissolveu em suas contradições (em que não faltaram “acusações” de alcoolismo ou suspeitas de doenças neurológicas incuráveis), este passou o bastão ( ou a coroa, já que ele se esforçara por restaurar a pompa czarista) a Putin, que representava a única coisa organizada que sobrara no combalido espaço político russo, à exceção dos oligarcas, em cujo meio não faltavam sequer os antigos reis do contrabando de tudo, dos tempos da finada União Soviética. Era a coisa lógica, já que junto com o Kremlin, Yeltsin passava a mala ou maleta que comanda o segundo poder nuclear do planeta, algo com que não se pode brincar nem deixar ao alcance de gente que joga na roleta financeira.
Não só isso: o comportamento “novo-rico” dessa nova “elite” russa é notoriamente espantoso, provocando críticas até mesmo entre alguns de seus membros, como Alexander Lebeder, que disse que seus “colegas” não conseguem se divertir com artes ou espetáculos, mas que para eles a única forma de impressionar os outros é algo como construir iates extravagantes.
Putin, que fora alto funcionário da KGB e comandara eventualmente a FSB, dispôs-se a reorganizar o estado soviético. Reaproximou-se e começou a reequipar o Exército Russo. Em sucessivos pronunciamentos mandou recados muito claros a Bush e aos líderes da União Européia de que os dias da confusão de Yeltsin tinham terminado. Começou a reorganizar o comércio exterior de armas e produtos afins da Rússia, consolidando a semi- ou pára-estatal Rosoboronexport como empresa com controle exclusivo do setor, com o comando de seu amigo dos tempos de KGB, Sergei Chemezov, hoje um dos magnatas russo da área.
Começou um “lento, seguro e gradual” trabalho de enquadramento dos “oligarcas”. Não os combateu, e ainda pairam sobre seu governo acusações de não combater devidamente a corrupção que eles levaram a níveis estratosféricos no estado russo (embora sobre Putin não pairem suspeitas consistentes de envolvimento). Alguns processos estratégicos, algumas condenações pontuas, sinalizaram que os tempos tinham mudado.
Para completar, a crise econômica jogou o que restava dos “oligarcas” em seus braços, ou melhor, nas contas do governo russo, e como devedores ou pedintes. Alguns desses magnatas perderam bilhões (a estimativa fala em de 230 a 260 bilhões dólares) em poucos meses; investimentos em empresas alemãs, norte-americanas, britânicas e outras se desfizeram em matéria de semanas.
A Rússia se enfraqueceu com a crise? Não exatamente. O Kremlin se fortaleceu, interna e externamente. Nessa nova moldura, entende-se perfeitamente que o presidente Barack Obama tenha acenado com uma détente militar em relação à Rússia. Além de eventuais intenções mais pacifistas ou, pelo menos, não tão belicosas quanto as de seu antecessor, trata-se para Obama de reconhecer que há um novo desenho a se esboçar no leste europeu, e que a nova/velha Rússia, como Fênix, se reergue dos escombros da União Soviética.
Ou seja, os russos estão mesmo de volta, e isso terá conseqüências muito significativas no mapa regional e mundial.
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Foi esse poder militar-econômico que derrotou o Exército Soviético, levando-o à penúria orçamentária (mas não de poder de fogo, pelo menos em terra), e à sua extinção, embora renascesse como Exército Russo, e agora “liberto” das peias ideológicas que seu compromisso com o ideal comunista impunha, pelo menos simbolicamente. Um sinal dessa transformação foi a repressão na Chechênia, quando dos movimentos separatistas nessa província, começada ainda no governo de Boris Yeltsin: sua brutalidade foi marcante, apagando as cenas de um exército que não queria atirar contra seu próprio povo, como aconteceu durante os movimentos populares de 1991, quando a União Soviética estertorava.
Durante a desorganização do mundo soviético, de um lado, grupos emersos do ou em torno do finado Partido Comunista, assumiram o controle das privatizações, enriqueceram enormemente, criaram o espaço dos “oligarcas russos”, hoje citados entre as personalidades mais ricas do mundo (alguns vivendo na Inglaterra e comprando times britânicos), e ganharam o espaço do mundo financeiro. Os espaços do governo – o Kremlin – foram o despojo de grupos emergentes da antiga KGB, transformada em FSB, nova polícia política, onde despontou a liderança do jovem Vladimir Putin.
Quando o governo de Yeltsin se dissolveu em suas contradições (em que não faltaram “acusações” de alcoolismo ou suspeitas de doenças neurológicas incuráveis), este passou o bastão ( ou a coroa, já que ele se esforçara por restaurar a pompa czarista) a Putin, que representava a única coisa organizada que sobrara no combalido espaço político russo, à exceção dos oligarcas, em cujo meio não faltavam sequer os antigos reis do contrabando de tudo, dos tempos da finada União Soviética. Era a coisa lógica, já que junto com o Kremlin, Yeltsin passava a mala ou maleta que comanda o segundo poder nuclear do planeta, algo com que não se pode brincar nem deixar ao alcance de gente que joga na roleta financeira.
Não só isso: o comportamento “novo-rico” dessa nova “elite” russa é notoriamente espantoso, provocando críticas até mesmo entre alguns de seus membros, como Alexander Lebeder, que disse que seus “colegas” não conseguem se divertir com artes ou espetáculos, mas que para eles a única forma de impressionar os outros é algo como construir iates extravagantes.
Putin, que fora alto funcionário da KGB e comandara eventualmente a FSB, dispôs-se a reorganizar o estado soviético. Reaproximou-se e começou a reequipar o Exército Russo. Em sucessivos pronunciamentos mandou recados muito claros a Bush e aos líderes da União Européia de que os dias da confusão de Yeltsin tinham terminado. Começou a reorganizar o comércio exterior de armas e produtos afins da Rússia, consolidando a semi- ou pára-estatal Rosoboronexport como empresa com controle exclusivo do setor, com o comando de seu amigo dos tempos de KGB, Sergei Chemezov, hoje um dos magnatas russo da área.
Começou um “lento, seguro e gradual” trabalho de enquadramento dos “oligarcas”. Não os combateu, e ainda pairam sobre seu governo acusações de não combater devidamente a corrupção que eles levaram a níveis estratosféricos no estado russo (embora sobre Putin não pairem suspeitas consistentes de envolvimento). Alguns processos estratégicos, algumas condenações pontuas, sinalizaram que os tempos tinham mudado.
Para completar, a crise econômica jogou o que restava dos “oligarcas” em seus braços, ou melhor, nas contas do governo russo, e como devedores ou pedintes. Alguns desses magnatas perderam bilhões (a estimativa fala em de 230 a 260 bilhões dólares) em poucos meses; investimentos em empresas alemãs, norte-americanas, britânicas e outras se desfizeram em matéria de semanas.
A Rússia se enfraqueceu com a crise? Não exatamente. O Kremlin se fortaleceu, interna e externamente. Nessa nova moldura, entende-se perfeitamente que o presidente Barack Obama tenha acenado com uma détente militar em relação à Rússia. Além de eventuais intenções mais pacifistas ou, pelo menos, não tão belicosas quanto as de seu antecessor, trata-se para Obama de reconhecer que há um novo desenho a se esboçar no leste europeu, e que a nova/velha Rússia, como Fênix, se reergue dos escombros da União Soviética.
Ou seja, os russos estão mesmo de volta, e isso terá conseqüências muito significativas no mapa regional e mundial.
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