A sinuca de Barack Obama é a mesma que acomete todos os governantes em períodos de crise sistêmica, radical. Acaba um ciclo. Setores líderes do ciclo que se encerra ficam inviáveis, mas conservam o poder político. Tem que se partir para o ciclo seguinte, mas esses setores ficam pairando como lastro de balão, impedindo o nascimento do novo ciclo.
No caso norte-americano, o problema é o sistema financeiro, os chamados bancos-zumbis, que quebraram com a crise. Eles estão empanturrados de derivativos tóxicos e de créditos de difícil recebimento.
Haveria dois caminhos para solucionar o problema.
O correto seguiria o modelo do nosso PROER. Esta semana o Luiz Carlos Mendonça de Barros escreveu um artigo didático na Folha sobre o modelo.
Em vez de criar um “bad bank” para comprar os títulos podres dos bancos-zumbis, o governo americano deveria criar um banco para comprar os ativos sadios desses bancos.
É o modelo universalmente consagrado de compra de empresas quebradas. Separa-se a parte boa e vende-se. Com os recursos apurados, cobre-se parte do rombo. Se a parte podre for maior, ou os controladores aportam novos recursos ou simplesmente o banco restante vira pó.
Com isso, dos escombros dos bancos-zumbis nasceria um novo banco, imenso, estatal no início, mas que poderia ser privatizado depois (de acordo com as tradições americanas), com porte e condições de revascularizar o sistema de crédito norte-americano e global. Mas significaria também que os acionistas e controladores dos bancos quebrados morreriam com o mico.
Essa solução lógica esbarra no poder políticos dos zumbis e nas vinculações ideológicas das pessoas incumbidas de pensar o plano de salvação - quase todas ligadas ao mercado financeiro.
Assim, fica-se nessa história de limpar os bancos dos ativos tóxicos permitindo a salvação dos controladores e acionistas. Com isso, a crise se aprofunda agudamente. A insegurança continuará, os recursos envolvidos não resultarão na volta do crédito em um momento em que a economia mundial caminha para o estágio mais perigoso: a deflação de ativos (isto é, os preços dos ativos despencando e trazendo novos rombos para a estrutura de capital das empresas e dos bancos).
Infelizmente, Omaba piscou. Esses momentos de crise aguda exigem decisões de ruptura, não de contemporização.
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