Os efeitos da recessão norte-americana sobre a economia asiática geralmente são minimizados, e a resposta regional à crise não é suficiente. O problema foi encarado em dezembro, na reunião-cúpula trilateral dos líderes da China, Coréia do Sul e Japão, e em numerosas reuniões bilaterais. À primeira vista, a ação coordenada empreendida pelas três potências pode ser significativa, pois contam com 75% do produto interno bruto da Ásia Oriental e com 67% de seu intercâmbio comercial. Existem, entretanto, razões para o ceticismo.
Primeiramente, o projeto de criação de uma área comercial regional foi alvo de idas e vindas durante os últimos 15 anos e de escassa implementação. Em segundo lugar, a coordenação intergovernamental de políticas econômicas para enfrentar a crise não tem um bom histórico. Não só os Estados Unidos vetaram o Fundo Monetário Asiático (FMA) proposto pelo Japão durante a crise financeira de 1997. A China também se opôs por medo que se convertesse em veículo de uma hegemonia japonesa.
Em terceiro lugar, das numerosas reuniões realizadas nestes meses, pode-se dizer que foi uma montanha que pariu um rato. As medidas para estender o uso de facilidades de intercâmbios monetários bilaterais sob o acordo entre os dez países da Associação de Nações do Sudeste Asiático e China, Japão e Coréia (Asean+3), bem como para injetar mais capital no Banco Asiático de Desenvolvimento, foram tímidas. Nenhuma das três potências fixou uma quantia específica para suas contribuições e há uma década a evolução institucional da Asean+3 não concretizou acordos para apoiar as moedas regionais submetidas a ataques especulativos.
A cooperação econômica interasiática é de grande importância porque foi a demanda chinesa que trouxe à tona as economias regionais, incluindo as da Coréia do Sul e do Japão, das profundidades da crise financeira nos primeiros anos desta década. No Japão, uma estagnação decenal foi quebrada em 2003, graças ao recorde de exportações de capitais e de tecnologia para a China. Por certo, a China se converteu no principal destino das exportações da Ásia em geral.
Esse papel positivo desempenhado pela “locomotiva chinesa” lançou otimismo sobre a hipótese de que o crescimento dos países asiáticos pudesse prosseguir apesar da atual recessão nos Estados Unidos. Mas uma pesquisa feita pelos economistas C. P. Chandrasekhar e Jayati Ghosh destaca que uma grande parte das importações chinesas de bens intermediários e peças do Japão, da Coréia e da Asean estava destinada apenas à fabricação de bens acabados para exportar para Estados Unidos e Europa, e não para seu mercado interno. Portanto, “se cai a demanda de exportações chinesas para Estados Unidos e União Européia, isso não só afetará a produção manufatureira chinesa, mas também a demanda por produtos importados de seus vizinhos asiáticos”, afirmaram.
A rápida transmissão para a Ásia do colapso de seu principal mercado desmentiu a hipotética desconexão com a recessão norte-americana. A mais correta imagem das relações Estados Unidos-Ásia é a dos prisioneiros acorrentados que também inclui China e Estados Unidos a uma multidão de economias-satélites, cujos destinos estão atados ao balão que murcha do consumismo financiado mediante o endividamento da classe média norte-americana.
A crise atual não é uma simples recessão e tem um significado adicional para a Ásia Oriental. Trata-se do fim de uma era de industrialização voltada à exportação que começou na década de 60, quando Coréia do Sul e Taiwan embarcaram em um processo de desenvolvimento que manteve atado seu crescimento ao mercado dos Estados Unidos. Incentivados pelo Banco Mundial a ‘fazer esforços especiais para afastar suas indústrias de substituição de importações dirigidas aos relativamente pequenos mercados internos e orientá-las para as muito superiores oportunidades oferecidas pela promoção de exportações”, os países do Sudeste da Ásia seguiram o conselho nas décadas de 70 e 80.
A integração regional ou a união dos mercados nacionais mediante a recíproca queda de tarifas aduaneiras enquanto os mantém fora da região é outra política possível diante do enfraquecimento do mercado norte-americano. As diferentes elites econômicas, entretanto, são muito zelosas de seus mercados nacionais, enquanto os tecnocratas governamentais, apesar de terem propiciado o sonho de um mercado da Ásia Oriental de 1,9 bilhão de consumidores, não demonstram entusiasmo para empreender esse caminho. Embora a atual crise pudesse animá-los a dar alguns passos nessa direção, a distância entre a retórica do regionalismo e a realidade dos mercados separados e das políticas econômicas independentes continuará sendo grande.
* Walden Bello é professor de Sociologia na Universidade das Filipinas e analista do centro de pesquisas Focus on the Global South, de Bangcoc.
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Nuss.. Vc Tem Um Blog TB?
ResponderExcluirrsrsrs.....
Que Espaço legal...
Vou está sempre por aqui...
abraços Thulio!